domingo, 21 de junho de 2009

Um dia perfeito


Ando devagar, sempre olhando para cima. Adoro ver o prata-dourado do sol. Deve ser umas oito ou dez horas, sei lá. É dia, e isso me importa, porque até que o sol passe do lado de baixo para o lado de cima da minha cabeça, ainda terei muito tempo para andar.
Vou sempre atrás dele, senão me perderia, embora as ruas sejam sempre retas, como devem ser, porque ele mandou que fossem assim.
Outra vez meu rosto está todo marcado, lapiado, como escuto os grandes dizerem. Lapiado e sangrando, de tanto as folhas me passarem pelo rosto.
Há uma brisa suave, assim é melhor porque posso ver as folhas dançando a cada vez que olho o céu. Também gosto muito de ver o amarelo dos cabelos das espigas.
É um dia perfeito, não sei bem se porque o sigo ou se porque há muitos pés de milho nessa terra.
Ando mais devagar ainda, só para não acabar o dia. Gosto do cheiro da terra, das folhas, do tempo quente.
Ele nunca olha para trás, sabe que não tenho medo quando ando pelo milharal, ao contrário, sou a pessoa mais forte do mundo. Não há igual! Sou como uma princesa ou uma índia, dona de mim. Ele sabe que muito tempo depois serei frágil, mas ele não me diz, e tenho certeza, hoje em dia, que não me falou para que a idéia do mundo amarelo continuasse no meu coração por muito tempo.
Não preciso de nada nesse instante, só continuar andando, atrás dele, por entre pés de milho.
O mundo é perfeito!
Tenho seis anos.

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